quarta-feira, 30 de julho de 2008

Gisele, meu Grande Amor

Sei que eu deveria estar escrevendo isso aqui com um objetivo ou com algo específico para ser dito, como uma carta normal. Mas esta não é uma carta normal, porque você não é um amor normal. Mais que o amor, você é o Grande Amor. Não me lembro quando te conheci, pois você surgiu na minha vida antes de mim.
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E nada mais precisa ser dito. Pois a diferença entre escrever para o amor e para o Grande Amor é que, no primeiro caso, escrevemos para seduzir, conquistar, perdoar, pedir perdão. Para o Grande Amor escrevo apenas para termos ele ao nosso lado, por alguns minutos. É necessário falar, mas não há o que ser dito. E isso basta. O amor escuta o que é dito, com o Grande Amor não é necessário dizer.
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Mas claro que eu fico próximo a você, longe das cartas. Eu olho nos seus olhos todos os dias, e vejo você sorrindo sempre que sorri. Às vezes, olhando para o outro lado, eu vejo você sorrindo atrás de mim, pois o mundo sabe quando o Grande Amor sorri. Ao menos, o meu mundo sabe. Pois o amor sorri de tudo, mas o tudo sorri para o Grande Amor.
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E às vezes estou perto de você e apenas te olho. E tento entender o que você é e como você chegou. E, no meio do meu raciocínio inocente, que tenta compreender você, seus olhos alcançam os meus e você sorri, desmontando tudo o que pensei. E eu sorrio de volta. Porque o amor sorri para nós. O Grande Amor nos faz sorrir.
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E, como todo Grande Amor, você ama. Incondicionalmente. Irreparavelmente. Você ama de uma forma que não explica o amor, mas o transcende. Você vive amor, Grande Amor. E isso é o que torna você o Grande Amor. Você ama, sente, vive. E eu, ali, deslumbrado e realizado, completo e felizardo, observando a imensidão do seu amor. O amor é o mundo. O Grande Amor é o universo. .
E, quando você se vai, você nunca parte. Porque você simplesmente não consegue sair de mim. Ar sai de mim, se for preciso, eu saio de mim, mas o Grande Amor não sai. O Grande Amor não se esquece. Com o Grande Amor, aprendemos e ensinamos, contando para os netos como é o Grande Amor. E, mesmo nesse final da vida, o Grande Amor está lá. Pois o amor é passageiro e o Grande Amor é o que me mantém.
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E o Grande Amor só é grande, porque o Grande Amor é você.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Isadora

– Eu não sei se vou conseguir ir. Estou começando a ficar gripado e estou preso no trabalho, não tenho hora para sair daqui.

Ficou pensando o dia inteiro em como falar isso, e agora tinha falado. Ele sabia que era o aniversário da namorada do melhor amigo, mas não estava com a menor vontade de ir e passou o dia inteiro pensando numa desculpa. Na falta de coisa melhor, apelou para a velha dupla gripe-trabalho, que nunca havia falhado. Até agora.

– Você sabe que a Daniela não vai te perdoar, disse o amigo, jogando todo seu argumento por terra.

– Eu sei, mas explica para ela que hoje, aqui no trabalho...

– Ela está aqui comigo, você fala com ela.

Antes que ele pudesse dizer “não, espera”, uma voz feminina atendeu o telefone.

– Você vai, né?

– Então, Dani, como eu estava falando para o Reinaldo, estou muito ferrado aqui hoje.

– Não tem problema, você chega mais tarde. A gente espera você.

– E eu não estou legal também, Dani. Acho que estou ficando com febre.

– Não tem problema, porque eu não consegui reservar uma mesa na parte de fora do bar, teremos que sentar dentro. Melhor ainda, já que você não está bem.

– Dani...

– Não, não. Você vai de qualquer maneira. Faço questão.

– Além disso, lembra da Beatriz, aquela menina que estava no aniversário do Reinaldo, e que você ficou todo interessado?

– Sim... Ela vai?

– Não só vai como perguntou se você iria.

– Sério? Perguntou?

Ele começou a odiar os traços de empolgação que apareceram na sua voz. Sentia que a sua tão sonhada noite com pizza e dois filmes alugados, embaixo do cobertor, estava indo por águia abaixo.

– Perguntou. E eu disse que você iria. Você não vai perder essa chance, vai?

– Ah, Dani...

– Ah, nada. Faço questão que você vá. Além disso, eu ainda não decidi quem serão os padrinhos do meu casamento com o Reinaldo, então, os nomes estão em aberto ainda. E claro que eu jamais o deixaria convidar alguém que não foi ao meu aniversário para ser padrinho.

“Golpe baixo”, pensou. Fechou os olhos e viu os almejados sofá-cobertor-pizza afastarem-se lentamente, rindo da sua cara. Desde quarta-feira estava sonhando com isso. Com isso, ou em começar o livro novo que havia comprado fazia duas semanas e que não havia conseguido encostar ainda. Desde quarta-feira tinha jurado que passaria a noite de sexta-feira em casa, descansando. E, quando acordou na sexta-feira e viu que estava chovendo, ficou mais feliz ainda. E agora, todos seus planos iam se desintegrando por causa de uma merda de uma festa de aniversário.

Suspirou.

– OK, eu vou. Mas não sei a que horas chego.

– Você é o máximo! E quanto ao horário, não se preocupe. A gente espera você. Beijos, até a noite. Quer falar com o Rê?

– Não... falo com ele a noite. Beijo.

Suspirou novamente e desligou o fone. Olhou novamente pela janela. Ainda chovia. Olhou no relógio. Quase seis da tarde.

Desligou o computador e decidiu ir para casa. Como morava perto do trabalho, fazia o percurso a pé, todo dia. Foi até a recepção da empresa e descobriu que alguém havia levado seu guarda-chuvas por engano. Ou de propósito, tanto faz. O que importa é que teria que sair na chuva. Xingou baixinho e colocou o pé na rua.

A garoa fina e gelada no seu rosto fazia seu humor piorar a cada passo. Definitivamente, não iria naquele aniversário. Não depois de tomar chuva porque alguém havia roubado seu guarda-chuvas. Quando quase foi atropelado por uma Kombi – que ainda passou em cima de uma enorme poça, deixando-o mais encharcado do que já estava – decidiu que assim que colocasse os pés em casa, iria ligar para o amigo e inventar uma desculpa. Não iria de jeito nenhum naquela festa. Não hoje. Não com frio, chuva, livro novo, filmes alugados e pizza.

Chegou em casa e colocou o carnê do condomínio – que esperava pacientemente próxima à porta sabe-se lá desde que horas – sobre a mesa, ao lado da carteira. Pegou o celular e ligou para o celular do amigo. Fora de área. Ligou para a casa dele. Ninguém atendeu. Ligou novamente para o celular. Ainda fora de área. Mandou uma mensagem de texto pedindo a ele que o ligasse e foi para o chuveiro.

Ficou cerca de dez minutos no banho quente e foi para o quarto, onde colocou uma calça de moletom e uma camiseta velha. Ligou novamente para o amigo. Fora de área. Merda de celular. Sentou no sofá e ligou a TV, encostando a cabeça numa almofada.

Acordou assustado. Olhou no relógio, quase dez da noite. Pegou o celular. Nenhuma chamada. Nenhuma mensagem de texto. Ligou para o amigo. A namorada dele atendeu, sem nem dizer alô:

– Você já está vindo?

– Oi, Dani...

– Você já está vindo, né?

– Então, Dani, eu...

– O Reinaldo está aqui esperando você. E eu também. Queremos muito ver você hoje. E a Beatriz também, mas ela ainda não chegou, falou rindo.

– Olhe, Dani...

– Não demora, ok? Vamos esperar você, mas não abusa!, riu novamente

– Dani...

– Beijos!, disse, antes de desligar.

Suspirou, desanimado. Não ia ter jeito, teria que ir nessa merda dessa festa. Foi ao quarto e começou a se trocar, fazendo força para demorar o máximo possível. Torcia para o telefone tocar e receber a notícia de que a festa havia sido cancelada. Calçou os sapatos, pegou o celular e carteira e saiu de casa. E o telefone não tocou. Pegou um táxi e foi até o bar. No meio do caminho, ia olhando a chuva batendo na rua e começou a se perguntar se não valeria a pena dar meia-volta, ir para casa e não avisar ninguém. Afinal, haveria outros aniversários e daqui a alguns anos ninguém se lembraria que ele não tinha faltado nesse.

O telefone tocou.

Era engano.

Ficou mais puto ainda. Olhou para o motorista, que dirigia em silencio, ouvido uma estação de radio evangélica e sentiu um “meu amigo, mudei de idéia, me leva de volta para o lugar que você me pegou” querendo sair pela garganta. No dia seguinte, ligaria para ela, se desculpando, dizendo que o táxi bateu em outro carro, mas estou bem, obrigado, foi uma batida leve. Iremos jantar essa semana, eu você e o Reinaldo, para seu aniversário não passar em branco, não precisa se preocupar. Seus pensamentos foram interrompidos pelo taxista, que parou o carro e disse, sem esboçar nenhuma simpatia pela situação dele.

– Chegamos.

Então, é isso, pensou. Lá se vai minha sexta-feira. Pagou o homem e entrou no bar, correndo para escapar da chuva.

A Dani veio correndo dar um beijo e um abraço nele. Cumprimentou o Reinaldo, e a aniversariante – fazendo o papel de anfitriã – começou a apresentá-lo às suas amigas.

Ao ir embora para casa, no meio da madrugada – a chuva havia parado – concluiu que a festa havia sido boa. Ao menos, mais divertida do que ele imaginava. Havia dado boas risadas, colocado o papo em dia com o amigo e lembrado o tempo de colegial, quando se conheceram. E, de quebra, havia recebido a promessa da Dani que “é claro que você vai ser padrinho, eu estava brincando!”.

A Beatriz? A Beatriz não foi. “Parece que um tio dela sofreu um acidente”, explicou a Dani.

Mas acabou conhecendo a Isadora, amiga de faculdade da Dani, que seria madrinha de casamento ao lado do primo da noiva.

E, naquela noite, ao voltar para casa, ele nem desconfiava começariam a namorar na festa após a cerimônia, se casariam dois anos depois e teriam três filhos e cinco netos. Mesmo com a doença da sua mãe, que interromperia sua lua-de-mel – não era nada sério, graças a Deus -, com o caçula que incendiaria um dos sofás aos quatro anos de idade e com aquela briga boba que acabou virando uma tempestade num copo d’água e quase acabou com seu casamento, nem fazia idéia de que sua vida já estava toda planejada. E que seria uma boa vida.

Já deitado, no quarto escuro, quase adormecendo, lembrou-se do rosto da Isadora e sorriu sozinho. Mas adormeceu logo em seguida, e nunca mais – nem quando levantou para tomar água de madrugada – se lembrou desse sorriso.

Sim, seria uma vida maravilhosa. E ele nem desconfiava disso.

PERGUNTA:
Já notou que às vezes a vida está passando e a gente nem vê?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Samba no pé merda na cabeça?

Esse era o lema dele, um cara truculento, duro, sem ginga alguma, não sabia sambar e não queria aprender.
Será? Acho que tinha medo de não conseguir, ou pior, de conseguir e manchar a sua reputação de rockeiro.
Carnaval de 2008, depois de muito tempo, ele, que nunca havia se programado pra esta data estava bem ancioso de poder, enfim passar um carnaval na praia.
Na maioria dos carnavais de sua vida, estava trabalhando, ou era criança demais pra isso, que dizer: dos zero aos 14, nenhum carnaval, nos 15, bah, foi ao desfile das escolas de samba da sua cidade, dos 16 aos 27, o trabalho se fazia mais importante, não que não tivesse feriadão, afinal era ponto facultativo. Ele não ia por opção e usava o trabalho como desculpa.
Por muito tempo quase perdeu a namorada com essas desculpas de trabalhar no carnaval, dizia pra ela que precisava trabalhar e que além do mais não era ambiente pra ela.
Ela de familia foliã sempre ia os bailes de carnaval, desde bem criança até conhecê-lo.
-Carnaval é uma festa pagã! Hehhehehe, sim ele dizia besteiras come essas, hehheehehhe.
O carnaval só estraga a visão do país lá fora, todos que vêem pra cá sempre assossiam o Brasil ao carnaval e samba no pé.
-Tu diz isso porque não sabe sambar. Dizia ela.
- Não sei sambar, mas sou um cara culto, ora bolas: samba no pé, merda na cabeça.
Não sei poque esse ódio todo pelo carnaval, quer dizer, eu sei, mas não sei se devo contar.

Tá, contarei:
Carnaval de 95, ele naquela idade em que as espinhas se fazem presentes no rosto em meio aos primeiros fios de barba, estava lá, ainda magro e com cabelo, com uma franja, não como as dos emos de hoje, uma franja de um cabelo que estaria crescendo havia uns 8 meses, bermuda da Murphi´s, camiseta da Pychuilin e tênis Qix, foi ao desfile com dois amigos, lá encontraría uma colega do 1º ano do segundo grau.
No caminho, àquela tristeza: ônibus lotado, um monte de bêbados, a multidão sambando e ele a procura da sua ficante. Foi quando a viu: linda, loira, sainha curta e ops, dois negrões de quase 2metros de altura, dançando com ela. Ela de 1,55, sambava e rebolava enlouquecidamente, ele com 1,65 ficou menor ainda diante daquela cena.
Não sabia o que fazer, não sabia brigar, não tinha altura nem força pra isso e pior, não podia nem tirá-la do meio daqueles dois . Tinha medo, medo de chegar perto dela e levá-la, ele já era orgulhoso, muito mais que hoje em dia, deveria chegar lá sambado e ganhá-la na moral. Não consegui, digo, não conseguiu.

Bom, o carnaval em questão é o de 2008.

Bah o que falar do carnaval de 2008?
Bah nem sei, tava tão empolgado em falar desse carnaval.
Essas lembranças antigas me deixam meio pra baixo, ainda mais que eu, digo ele, estamos falando dele e não de mim, putamerda, me perdi todo.
Ainda mais que ele aprendeu a sambar no carnaval de 2008 e viu que tinha samba no pé e agora lembra que tinha merda na cabeça.

Kichute

Texto originalmente escrito para o Nostalgia Moderna, mas ele me faz pensar sobre várias coisas, inclusive a minha velhice aos 28 anos.

Sábado passado fui a uma loja comprar o novíssimo e moderno tênis ALL STAR.
Chegando na loja, perguntei pro atendente:
-Tem AllStar vermelho n°41?
-Vou ver para o senhor, respondeu o rapaz.
Senhor, ele disse senhor, mas eu tenho 26 anos não sou tão velho assim, será a barba?
Bom não sei! Vo tirar a barba, tô parecendo um "tio". Esses pensamentos me vieram enquanto, eu esperava o rapaz.
-Não tem senhor, só 40 pra ai, vê se serve, respondeu o rapaz quase que me obrigando a experimentar o tênis.
-Bah! Não serviu, e outro tenis oitentista tu tem? Perguntei.
O rapaz com cara de espanto disse:
-Oque? Oitentista?
Convesso que usei uma expressão bem antiga, então tentei reformular a pergunta.
-Tu tem Bamba?
Bamba?
Ele já tava ficando com medo de mim.
-É Bamba, o concorrente do AllStar nos anos 80!
-Tu tá viajando, o AllStar foi lançado a 3 anos, como pode ser dos anos 80?
Meu Deus ele é que tava viajando, então pra concluir o pensamento que estave se criando em minha cabeça, perguntei:
-Quantos anos tu tem?
-17.
-Tu conhece Kichute, já ouviu falar?
-Tu tá loco, quer que eu caia nessa, não quer comprar não compra, mas não fica inventando essas marcas só pra dizer que ia comprar.

Meu pensamento se formou por completo:
"Meu Deus, eu tô ficando velho, muito velho, essa guriazada de hoje não conhece nem o Kichuete, imagina se eu pergunto se tem Conga?"

Tenho que me reciclar! O mais rápido possível.

PERGUNTA
Tu também te acha velho mesmo com vinte e poucos anos?

Novo Visual

– Oi, amor!

– O que é isso no seu rosto?

– Como assim?

– Essa barba?

– Eu deixei crescer.

– Sim, eu vi. Mas por quê?

– Ah, não sei ao certo. Queria mudar.

– Você não gostava de você?

– Não, eu gosto de mim. Apenas queria dar uma variada.

– E o que mais você mudou?

– Como assim?

– Você não disse que queria mudar?

– Sim.

– O que mais você mudou?

– Nada. Apenas deixei a barba crescer.

– Hum... Não sei... Você ficou diferente.

– Mas essa era a idéia.

– Ficar diferente?

– Sim.

– E eu?

– O que tem você?

– Eu vou ter que aprender a conviver com você de novo. Você se tornou outra pessoa.

– Olhe, eu apenas deixei a barba crescer. Se você não gostou, eu posso tirar.

– Não é questão de gostar ou não. É questão de que tudo que vivemos não valeu nada. Não valeu nada para você, porque você queria mudar. E não valeu nada para mim, pois teremos que começar tudo de novo. Vou ter que reaprender a viver com você.

– Olhe, é apenas uma barba. Eu sou a mesma pessoa. Sinto as mesmas coisas. Penso da mesma forma que eu pensava antes.

– Como você pode dizer assim? Você não pensava em deixar a barba crescer antes.

– Pensava, mas nunca tinha comentado.

– Como assim? E por que nunca disse isso?

– Eu não achei que era importante...

– Ah, claro! Não era! Agora, você deixou a barba crescer, tornou-se outra pessoa. E isso, óbvio, não é importante. Eu ter que aprender com um estranho do meu lado também não é importante.

– Amor...

– Amor? Amor, porra nenhuma! Eu nem sei mais quem é você!

– É apenas uma barba. Só isso. Se você quiser, eu tiro.

– Não. Você quis mudar, agora mude. Não pensou por um minuto em mim, e em tudo o que construímos até hoje. Aí, você vem até a minha casa, um dia, com uma barba no rosto, e acha que está tudo bem. Acha que tudo vai continuar sendo a mesma coisa.

– Olhe, eu...

– Como você se sente em relação a isso? Sim, por que isso pode ter mudado também. Você ainda me ama?

– Mas é claro que eu amo você!

– Será? Eu nem sei mais ao certo quem é você!

– Eu posso fazer a barba.

– E nossas lembranças? Você vai jogar tudo fora assim? Sim, porque você simplesmente decide se tornar outra pessoa, de um dia para o outro? Você não está satisfeito com a sua vida e decide deixar a barba crescer. Cansou de ser assim. Mas e nossas lembranças? Nossas férias em Fortaleza? Elas ainda existem? E os natais que passamos juntos?

– Mas é claro que existem!

– Não sei! Se eu olhar as fotos, agora, não é você quem está ali! É uma outra pessoa que não está aqui agora! Aliás, uma pessoa que eu nem sei mais onde está! Tudo o que eu vivi, tudo o que eu sabia... Foi tudo por água abaixo. Tenho que começar do zero, agora.

– Não, bobagem sua, é apenas uma barba...

– Pára de falar que é apenas uma barba! Não é! É uma vida! É tudo o que vivemos até hoje! Você vai jogar tudo fora assim, porque cansou?

– Olhe, eu vou para casa. Depois a gente conversa com mais calma, você está nervosa.

– Não. Entre. Se é para começarmos do novo, temos que começar em algum momento. Mas apenas não estranhe se eu não me sentir à vontade com você, como acontecia antes. Você quis mudar, agora agüente as conseqüências. Preciso me acostumar com você novamente. Precisamos reconstruir nossa intimidade.

– ...

– Entre logo! Eu queria pedir pizza hoje. Você ainda gosta de calabresa, ou isso mudou também?

– Gosto.

– Então, ótimo. Entre. Vamos nos conhecer melhor.


Na semana seguinte:

– Oi, amor.

– O que você fez?

– Raspei a barba. Estava coçando demais. Gostou?

– Você está tentando me enlouquecer?

PERGUNTA
Isso é real?

Psicologias de buteco

Terça feira, 21h, lá estavam os três, sentados num Buteco, Buteco com B maiúsculo, Buteco original, daquele cujo nome termina com ('s), sabe? Tipo: Buteco's Bar, Bar do Gordo's. Bom, um Buteco, deu pra entender né?
Eles se reunem pra tomar umas cervejas religiosamente todas as terças após o jogo.
Eles não jogam mais como antigamente, estão fora de forma e beirando os 30, mas beber eles bebem como se tivessem 18 anos, com uma grande diferença: já têm figado TotalFlex.
Entre uma cerveja e outra debatem sobre tudo, mesmo sem ter certeza do assunto, o importante pra eles é não demonstrarem fraqueza, portanto vale falar até do que não se sabe, basta falar com convicção.
Neste dia o papo tava meio que forte:

-Eu digo que é!-gritou Alfredão, zagueiro de antiga técnica, mas que hoje só joga pela força (de vontade).
-Nã! Bem capaz!-retrucou Danilinho, atacante em final de carreira, porém eficaz.
-Eu não sei, mas pelo que me disseram, é sim! -fala calmamente Maninho, goleiro que salvara o time naquela noite de sofrer uma goleada histórica.
Depois de um gole, quase engasgando Alfreto rebate:
-Eu falei! Eu falei...
-Mas, quem me disse foi o Traguinho (que forma dupla de ataque com Danilinho. Quando solterio era o mais festerio, não perdia um jogo, mas infelizmente nessa noite não pode comparecer ao "evento", pois tinha um jantarzinho de casais com as colegas de firma de sua esposa) e ele é um baita mentiroso! -interrompeu Maninho.
-Viu? saboreia Danilinho, o doce gosto da vitória naquela interminavel discussão.
-Peraí!-Alfredo com o copo na mão fala apontando o dedo pra Maninho!- O Traguinho "era" mentiroso! Era o maior de todos, mas depois que casou com a Zuleica, bah! o cara tá virado num santo! Eu acredito nele.
-Hehehehe, Alfredo, as pessoas mudam, mas a essência continua a mesma, eu além de ser companheiro de ataque do dele, o conheço faz uns 20 anos, ele sempre será aquele trovadorzinho que desde a adolescencia nos colocou nas maiores roubadas.- retruca Danilinho.- Não vamos nos enganar.
Depois de esvaziar mais uma garrafa de cerveja Maninho pensativo sussurra:
-Pois é...
-Pois é o que?-retrucam os outros dois.
Danilinho após pedir mais uma cerveja:
-Tu concorda comigo né Maninho, que não verdade não é né?
-Claro que ele concorda comigo, é sim né Maninho? -Pressiona Alfredo.
-Eu acho que se o Traguinho tivesse jogado a gente teria ganho o jogo.
Alfredo e Danilinho se desesperam:
-Como assim? Do que tu tá falando?
-Do jogo. -responde Maninho.
-Que jogo? Quem se importa com o jogo? Nós estamos falando de algo sério aqui e tu com esses papinhos de jogo? -Daninho, não acredita que Maninho havia mudado de assunto sem concluir o primeiro.
-Bah te larguei Maninho, eu achando que tu concordava comigo que era, mas bah, tu nem tá pro nosso assunto. -lamenta Alfredo. - o Danilinho acha que não é, eu acho que é. E tu?
-Eu não acho nada!
Bah! Era só o que faltava, tá encima do muro, típico! Alfredo, liga pro Traguinho, ele desempatará a nossa discução.
Alfredo liga pro Traguinho e depois de 1 min diz:
-Bãiii!
-O que foi que ele disse? -Danilinho pergunta aflito.
Alfredo responde com tom de tristeza:
-Quem atendeu foi a Zuleica e ela disse que se é ou não é não importa.
-Putz! e quem vai pagar a próxima rodada? -pergunta Maninho.
-Bah! Tu só pensa em ti mesmo né? Como terminaremos essa discução se tu só pensa em ti? perguntava aos berros Danilinho.
-Tá eu pago! Maninho contando as últimas moedinhas pra uma saideira.
-Agora sim! respirava mais aliviado Alfredão que não tinha mais um puto no bolso.


PERGUNTA
Entendeu? Nem eu.
Tu e teus amigos discutem sobre nada por horas e horas?